CÊ ESTÁ VENDO UM MÉDICO POR CÁ? (2019)




Gostaríamos de começar este texto com a pergunta que o título introduz, porém, a figura do médico não vai ocupar aqui um papel relacionado à saúde dos corpos. Tratando-se de um texto crítico sobre espaços públicos e as possibilidades de ativar neles diversos projetos (artísticos, de gestão cultural, urbanismo etc.), o médico aparecerá aqui como ausência, mais do que como presença. Porém, uma ausência denotada em outras presenças. Ou, precisamente por estar ausente, é que outras presenças poderão emergir e se tornar visíveis. Aliás, um visível invisibilizado. Como camadas de cidades que, enquanto as olhamos "de fora e de longe", vemo-las vazias, abandonadas. Mas, se caminhássemos por essas ruas, numa perspectiva do corpo-a-corpo afetado, e sendo afetado pelos demais que também estão aí, esses outros e suas práticas, possivelmente, emergiriam diante dos nossos olhos com toda essa vida com a qual preenchem esses espaços. E se tornariam presentes com uma força tal que, depois disso, não conseguiríamos voltar a olhar para esses fragmentos de cidade da mesma maneira como fazíamos, pois, não há volta atrás uma vez que o afeto nos atravessa.

*O presente Ensaio foi publicado em 2019 no livro "Cidades rebeldes: invisibilidades, silenciamentos, resistências e potências" (Paulo Raposo, Allende Renck, Scott Head, org.). Editora da UFSC


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