Natureza Morta. Morta. Morta. (texto em português)

Objeto performático instalado por Santiago Cao no IUNA (Instituto Universitário Nacional da Arte) sede Artes Visuais.

Gaiola de madeira e metal, prato de porcelana e carne de vaca moída.

3 a 10 Diciembre de 2007. Buenos Aires, Argentina.

(Para ver os registros fotográficos dessa Performance, fazer click na foto)


“A morte anuncia o nascimento e é a sua condição. A vida sempre é um produto da decomposição da vida”.

(George Bataille, “O Erotismo”)

 

Pensando nesta frase, decidi criar um objeto que brincasse ironicamente com as palavras “Natureza Morta” (em referência à composição pictórica gerada com elementos supostamente “inanimados”) e esta ideia proposta por Bataille que entende a morte como um processo que não só gera vida como também é parte da vida mesma. Como tenho um interesse maior nos processos do que nos resultados supostamente “acabados”, decidi gerar uma provocação dentro mesmo do IUNA de Artes Visuais. 

Com esta intenção instalei num dos corredores de ingresso ao prédio uma gaiola muito rústica que encerrava dentro um prato de porcelana branca sobre o qual repousava um punhado de carne de vaca moída que previamente molhei com leite para dar uma acelerada no processo de decomposição e transformação com a esperança que dela surgiram vermes para depois poder substituir o cartaz que nomeava a obra "Natureza Morta. Morta. Morta." por outro que dissesse "Natureza Viva. Viva. Viva."

Depois de cindo dias de muita calor, nessa carne supostamente “morta”, começaram a surgir os vermes que com seus movimentos indicavam a presença de uma nova vida e a consequente transformação da “proposta artística” inicial. Mas, como todo processo se desenvolve num estado de contaminação e intercambio, esse processo de transformação foi gerando odores desagradáveis que incomodaram a muitas das pessoas acostumadas a compreender a obra de arte como algo inodoro, asséptico e acabado. Mas o interessante foi que nenhuma destas pessoas que protestavam (incluindo estudantes, professores e autoridades) fizeram algo ao respeito, se limitando somente a palavras condenatórias e ameaças de tirar dai a gaiola, mas sem uma ação que as acompanhe. E tenho me perguntado muitas vezes se talvez não fosse essa “aura” em torno à categoria Arte o que manteve às pessoas inibidas de retirar a gaiola daquele lugar. 

A unica pessoa que tomou a iniciativa foi um funcionário encarregado da faxina da universidade que vendo que a carne estava com vermes, optou por jogá-la no lixo, lavar o prato e colocar ele novamente dentro da gaiola. Mas a sua ação foi sem intenção nenhuma de intervir no processo ou de “censurar” a obra pois quando fiquei sabendo do acontecido e averiguei quem tinha sido esta pessoa, a mesma se desculpou me dizendo que não sabia que aquilo era uma obra e que, achando que alguém tinha se esquecido de jogar a carne fora, achou estar cumprindo com suas funções ao “limpar” o interior da gaiola e retirar do lugar aquilo que estava contaminando com odores desagradáveis o corredor de ingresso ao IUNA.


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